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29/12/23

Amarante Poesia - Vinha também visitar Pascoaes um outro amarantino - Alfredo Brochado -, ainda aparentado com o Poeta pelo lado materno.





«Amarante, Alfredo Brochado, poeta.

Vinha também visitar Pascoaes um outro amarantino - Alfredo Brochado -, ainda aparentado com o Poeta pelo lado materno.

Vinha a pé pela ramada do jardim.

Era um homem triste, de grandes olhos sonhadores. Um espírito muito sensível e delicado que não aguentou o peso da vida. Acabou por se suicidar em Lisboa, onde era funcionário público.» in  fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos


«Alfredo Brochado  

[Amarante, 1897 - Lisboa, 1949]  


Alfredo Brochado

Estudou em Coimbra, onde se licenciou em Direito, e, embora com retornos irregulares a Amarante, fixou-se em Lisboa, primeiro como funcionário superior do Tribunal de Contas, depois como chefe de secretaria da Procuradoria-Geral da República. Frágil, introvertido, doentiamente instável, viu agravarem-se as crises neurasténicas na década de 40 e acabou no suicídio porventura precedido de enlouquecimento.

Constante, nele, só o gosto da criação poética, seguindo a convicção espontaneísta que confidenciava: «Aconteceu-me hoje este poema!» (testemunho de Augusto d'Esaguy). Daí que, além de ter sido redactor da revista literária Gazeta dos Caminhos de Ferro, dispersasse colaboração por vários jornais e revistas, como Flor do Tâmega, A Águia, Semana Portuguesa, Seara Nova, Diário de Lisboa, Diário Popular, O Primeiro de Janeiro, República, etc.

Por 1920 aparece associado às iniciativas literárias de Coimbra, sendo um dos fundadores da Ícaro e colaborador de A Tradição. Em 1921 publica a «ode» neo-romântica O Sangue dos Heróis, recitada em Amarante, e começa a enviar poemas à Águia. Os poemas dispersos foram parcialmente coligidos no livro póstumo Bosque Sagrado (Lisboa, 1949); um ano depois, o volume colectivo Leonardo Coimbra. Testemunhos dos Seus Contemporâneos inseria um breve depoimento seu «A última vez que vi L. C.»; e em 1952, graças a Zur-Aida Esaguy, foi editado um texto juvenil à maneira de Maeterlinck, «Diálogo antigo», entre o quadro dramático e o poema em prosa.

Conterrâneo de Pascoaes, este logo o inclui, em Os Poetas Lusíadas, entre as promessas do período neo-sebastianista, e, mais tarde, prefaciando Bosque Sagrado, não se coíbe de considerar que Brochado pertence ao número dos autênticos poetas cujo destino é «verbalizar o inefável». Mas é equívoca a aproximação entre a poesia de Pascoaes ou o saudosismo e a obra incerta de Brochado. O próprio poeta, em textos como «Imperfeição», denuncia a condição dúplice de matriz romantico-decadentista e que, tendo embora por horizonte ideal outra poesia visionária, não se ilude quanto à distância a que dela se queda. Pela idiossincrasia, pelo destino, pela temática e pela imagística depressivas da sua poesia, bem o podemos situar, como A. d'Esaguy, na linhagem de José Duro, Costa Alegre, M. Laranjeira... 

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994» in http://livro.dglab.gov.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=8724

Mais sobre o Poeta: https://palavracomum.com/alfredo-brochado-poeta-renascentista-e-ignorado-combatente-republicano/


#amarante    #poesia    #alfredobrochado    #teixeiradepascoaes    #republicano

23/06/23

Amarante Literatura - Foi em 1924 que o poeta Guilherme Faria apresentou o Henrique Paço D' Arcos a Teixeira de Pascoaes.


«Foi em 1924 que o poeta Guilherme Faria apresentou o Henrique Paço D' Arcos a Teixeira de Pascoaes. Ele e os irmãos - o Carlos Eugénio, o Pedro, o Joaquim - passaram a ser assíduos frequentadores da Brasileira do Chiado, onde Pascoaes se reunia com os amigos e admiradores, e da York House onde estávamos instalados. 

O Henrique viria a ser o discípulo bem amado.

Eis  como ele próprio descreve o convívio com o Poeta do Marão, no prefácio do livro «A Voz Nua e Descoberta»:

«Foi o Guilherme Faria quem nos revelou, a meus irmãos e a mim, os versos de Pascoaes. E para mim foi bem uma revelação. Em breve ele nos apresentou ao Poeta, numa mesa da Brasileira do Chiado onde de futuro por dias sucessivos passámos a abancar, na roda de outros jovens como nós seduzidos pela forte e original personalidade do grande Poeta.

«À mesma mesa da Brasileira vinha também sentar-se diariamente Raul Brandão, amigo e admirador que era de Pascoaes, que lhe retribuía a admiração e a amizade.

«Regressado Pascoaes a Amarante, escrevi-lhe uma carta em que lhe dizia de minha enorme admiração e já mesmo estima que lhe votava, carta redigida em termos entusiastas e ingénuos, mas que tiveram o condão de despertar no Poeta o desejo de melhor me conhecer.

«Daí nasceu uma enorme e recíproca amizade traduzida em mil e uma expressões, desde a correspondência assídua de três ou quatro anos, que religiosamente conservo, e dedicatórias em livros, ao carinhoso acolhimento de todos os seus familiares e sobretudo à imarcescível recordação que guardo do seu espírito.

«No Verão de 1924, Pascoaes convidou-nos, a meu irmão Pedro e a mim, para irmos passar uma temporada em Amarante.» in Fotobiografia  "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


#amarante    #literatura    #poesia    #teixeiradepascoaes

#henriquepaçod'arcos    #guilhermefaria    #raulbrandão

30/01/22

Amarante Poesia - O Poeta de Gatão, Amarante, Teixeira de Pascoaes, enquanto estudante de Coimbra compôs uma quadra belíssima para ser cantada pelos estudantes trovadores...


Enquanto estudante em Coimbra no início do século passado, o estudante Teixeira de Pascoaes, compôs uma belíssima quadra, para ser cantada ao som do trinar das guitarras e das vozes dos capas negras:

«Saudade, palavra escura

Mas por dentro iluminada.

É como na noite sombria

Um beijo da madrugada.»

#poesia

#coimbra

#teixeiradepascoaes

#fadodecoimbra

23/09/21

Amarante Poesia - Como o Poeta de Amarante, Teixeira de Pascoaes, descreve o Outono doutrora em Amarante, Gatão...



"Paisagens


Num pálido desmaio a luz do dia afrouxa

E põe, na face triste, um véu de seda roxa...

Nuvens, a escorrer sangue, esvoaçam, no poente.

E num ermo, que o outono adora eternamente,

Vê-se velhinha casa, em ruínas de tristeza,

Onde o espectro do vento, às horas mortas, reza

E o luar se condensa em vultos de segredo...

Almas da solidão, sombras que fazem medo,

Vidas que o sol antigo, um outro sol, doirou,

Fumo ainda a subir dum lar que se apagou."


Teixeira de Pascoaes

Vida Etérea (1906)

In Poesia de Teixeira de Pascoaes

11/07/20

Amarante Poesia - Teixeira de Pascoaes, na obra "Sempre", numa excelente definição de Poeta da Saudade que se projeta em Praxis no Futuro...

"Poeta


Quando a primeira lágrima aflorou

Nos meus olhos, divina claridade

A minha pátria aldeia alumiou

Duma luz triste, que era já saudade.


Humildes, pobres cousas, como eu sou

Dor acesa na vossa escuridade...

Sou, em futuro, o tempo que passou-

Em num, o antigo tempo é nova idade.


Sou fraga da montanha, névoa astral,

Quimérica figura matinal,

Imagem de alma em terra modelada.


Sou o homem de si mesmo fugitivo;

Fantasma a delirar, mistério vivo,

A loucura de Deus, o sonho e o nada."


Teixeira de Pascoaes
Sempre (1898)
In Poesia de Teixeira de Pascoaes
Org. de Silvina Rodrigues Lopes
Lisboa, Editorial Comunicação, 1987


21/03/19

Dia Mundial da Poesia - "Encantamento" do maior Poeta de Amarante e de Portugal, o Grande Teixeira de Pascoaes!



"Encantamento

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar 
A tua dôce e angelica Figura, 
Esquecido, embebido num luar, 
Num enlêvo perfeito e graça pura! 

E á força de sorrir, de me encantar, 
Deante de ti, mimosa Creatura, 
Suavemente sentia-me apagar... 
E eu era sombra apenas e ternura. 

Que inocencia! que aurora! que alegria! 
Tua figura de Anjo radiava! 
Sob os teus pés a terra florescia, 

E até meu proprio espirito cantava! 
Nessas horas divinas, quem diria 
A sorte que já Deus te destinava!" 

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias' 

09/09/18

Amarante Poesia - Extraordinário Poema sobre o Rio que nos encanta e que nos interpela a irmos para além dele, muito acima das suas brumas matinais...




"Poema do rio

E se um pássaro me cantar,
Das manhãs,
A luz da aurora,
Num sopro frio;

E se o céu de estio 
Me trouxer nuvens 
De incandescências várias;

E árvores que,
Milenares, 
Trago sempre por companhia
Chorarem sobre mim luzes de orvalho, 
Gotas melosas, cristalinas,
Tombando em suave melodia
Sobre o espelho inquieto 
Que me sei ser…

E nesse ar difuso
Que me envolve os sentidos num lampejo,
Em ansiedades de crescer,
Ah!, passasses tu sobre a ponte, 
Que não te vejo!
Passasses sobre o tempo gasto,
Os olhos presos em lânguidas nostalgias
E o perfume que soltasses da pele… um rasto,
Teu corpo enlaçado sobre a sombra.

Que eu liberto os braços que se retorcem 
Por força de se arquejar em mim o casario,
Abro as palmas das mãos,
Margens de uma alma que não tenho minha,
Que de tantos é, com tantos caminha…
Estendo o olhar ao vazio.

E inquieto embora,
Ansioso embora,
Fico a ver-te passar,
Que sou rio."

Amarante, Telões, 24 de agosto de 2013.

Poetisa, Anabela Borges


24/12/17

Amarante Poesia - Só Teixeira de Pascoaes, para nos explicar de forma Poética e metaforicamente a Magia do Natal, na sua Obra Superior, Marânus!



"O NASCIMENTO

Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Rompendo a sombra etérea do crepúsculo!
A paisagem tornou-se mais estranha,
Mais cheia de silêncio e de mistério!
Dormem ainda as árvores e os homens,
E dorme, em alto ramo, a cotovia…
E, se ergue já seu canto, é porque sonha
julga ver, sonhando, a luz do dia!

E, pelos negros píncaros, a estrela
É divino sorriso alumiante.
Oh, que esplendor! Que formosura aquela!
É lírio de oiro aberto! É rosa a arder!

Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Tão virginal, tão nova, que parece
Sair das mãos de Deus, a vez primeira!

E como, sobre os montes, resplandece!

Persegue-a o sol amado… No oriente,
Alastra um nimbo anímico de luz.
E a antiga dor das trevas, suavemente,
Ondula, em transparência e palidez.

Aí vem a estrela, alumiando a serra!
E os olhos encantados dos pastores
Voltam-se para a estrela… E cá na terra
Há mágoas e penumbras, a fugir…

Como ela voa, cintilando e rindo
Aos penhascos agrestes e desnudos!

E os pastores, atentos, vão seguindo
A direcção etérea do seu voo…

E a quimérica estrela deslumbrante
Parou sobre a capela, onde a Saudade
Agasalhava o Deus recém-nascido,
Com seu manto de amor e claridade.
E, amparando-o nos braços, lhe estendia
Os seios maternais. A criancinha
Mamava. E a Saudade lhe sorria,
Num enlevo, num êxtase sagrado.

A primavera, errante no Marão,
Veio cobrir de lírios e de rosas
O berço do Menino. E veio o outono,
E vieram ermas sombras dolorosas.
Logo, o outono rezou a sua prece

De cinzas e de bruma. E o lindo sol,
Entrando pelos vidros, aparece,
Junto ao pequeno berço. E toda a luz
Do céu veio com ele! E veio a noite.
Vieram as avezinhas, que deixaram,
No recôndito ninho, abandonados,
Os filhos ainda implumes. E cantaram
Em louvor do Menino e da Saudade.

E Marânus sentia, mais alegre,
Tornar-se vida, amor, fecundidade,
A sua antiga e mística tristeza.

E, ao ver a própria alma da sua raça
Criar a Virgem Mãe dum novo Deus,
Eis que à flor dos seus lábios esvoaça
O sorriso supremo da vitória.

E a Saudade, num casto e luminoso
Gesto de amor, tomando, novamente,
O Menino nos braços, o embalava.
E sobre ele inclinava docemente
A fronte aureolada. E uma canção,
Que era feita de todas as cantigas,
Mais num murmúrio brando de oração

Que em voz alta, cantava. E o Deus menino,
Com os olhos abertos, num espanto,
Recebia do mundo a clara imagem
E o seu nubloso e misterioso encanto…

Também o bom pastor, a quem Marânus
Havia prometido o Nascimento,
Sentia em seu espírito surgir,
Envolto num astral deslumbramento,
Estranho e novo ser, que dissipava
O seu velho crepúsculo interior,
Onde um fantasma, trágico e nocturno,
Aparição do medo e do terror,
Furibundo, reinava, desde os séculos!

O Menino crescia, como a aurora
Que, sendo esparso vulto de mulher,
Na linha do horizonte, que descora,
Lembra a auréola dum Deus anunciado…

Em volta dele, as coisas se animavam
Dum sentido mais belo e verdadeiro;
E a sua alma oculta desvendavam,
Como na luz primeira da Existência.

Mundo transfigurado! Ó terra santa!
Ó terra já divina e toda erguida
Àquela altura ideal da Eternidade,
Mais uma vez, a morte foi vencida!

Alguns dias passaram. E Marânus
Disse que ia partir à sua Esposa,
E que se entregava ao casto amor, tão puro,
Desta leal paisagem montanhosa.
E, chorando, abraçava-a, e repetia
Que tinha de partir; mas, dentro em pouco,
Por uma clara noite, voltaria.

E a trágica Saudade, sufocada:

«Eu bem conheço a voz que te chamou!
Voz que ilumina as árvores e as nuvens,
E que meu ser antigo transformou
Neste meu ser anímico e perfeito.»

E, mais serena e resignada: «Vai!
Cumpre a sua vontade. É teu destino…»

E beijando-o nos lábios, e tomando
Em seus braços de imagem o Menino,
Subiu a um alto píncaro escarpado,
De onde ela, por mais tempo, contemplasse
O esposo e companheiro bem amado.

E, sozinha, de pé, sobre um rochedo,
Disse-lhe um longo adeus.
E, já distante,
Marânus, ansioso, para trás
Volvia a face triste, a cada instante.
E parava, cismando…
Mas, ao longe,

O corpo da Saudade, vago e incerto,
Perdia-se, no ar que se turbava…

Anoitecia. A serra era um deserto.
E Marânus seguia o seu caminho."

Teixeira de Pascoaes

09/09/17

Amarante Poesia - Quem disse que uma Fotografia não pode ser Poesia, quem disse que os Amigos Carlos Moura e Anabela Borges não são Poetas?...

*Fotografia de Carlos Moura*


«Poema do rio

E se um pássaro me cantar,
Das manhãs,
A luz da aurora,
Num sopro frio;

E se o céu de estio 
Me trouxer nuvens 
De incandescências várias;

E árvores que,
Milenares, 
Trago sempre por companhia
Chorarem sobre mim luzes de orvalho, 
Gotas melosas, cristalinas,
Tombando em suave melodia
Sobre o espelho inquieto 
Que me sei ser…

E nesse ar difuso
Que me envolve os sentidos num lampejo,
Em ansiedades de crescer,
Ah!, passasses tu sobre a ponte, 
Que não te vejo!
Passasses sobre o tempo gasto,
Os olhos presos em lânguidas nostalgias
E o perfume que soltasses da pele… um rasto,
Teu corpo enlaçado sobre a sombra.

Que eu liberto os braços que se retorcem 
Por força de se arquejar em mim o casario,
Abro as palmas das mãos,
Margens de uma alma que não tenho minha,
Que de tantos é, com tantos caminha…
Estendo o olhar ao vazio.

E inquieto embora,
Ansioso embora,
Fico a ver-te passar,
Que sou rio.

Amarante 24 de agosto de 2013,
Anabela Borges, Poetisa.» in https://www.facebook.com/photo.php?fbid=497238827037163&set=a.186361621458220.43721.100002531506939&type=3&theater

10/08/17

Amarante Literatura - Vinha também visitar Pascoaes um outro poeta amarantino - Alfredo Brochado -, ainda aparentado com o Poeta Teixeira de Pascoaes pelo lado materno.


Alfredo Brochado, Poeta Amarantino.


«Vinha também visitar Pascoaes um outro poeta amarantino - Alfredo Brochado -, ainda aparentado com o Poeta pelo lado materno.

Vinha a pé, pela ramada do jardim.

Era um homem triste, de grandes olhos sonhadores. Um espírito muito sensível e delicado que não aguentou o peso da vida. Acabou por se suicidar em Lisboa, onde era funcionário público.

Deixou versos bonitos e românticos.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

Mais sobre Alfredo Brochado.


"MÃE

Dantes, quando a deixava, 
As férias já no fim, 
Ela vinha à janela 
Despedir-se de mim. 

Depois, quando na estrada, 
Olhava para trás, 
Deitava-me ainda a benção 
Para que eu fosse em paz. 

Dali não se movia, 
À vidraça encostada, 
Até que eu me perdia 
Já na curva da estrada. 

Hoje, se olho, calo-me 
E baixo os olhos meus! 
Já não vem à janela 
Para dizer-me adeus! 

Chove, e a chuva é fria. 
Noite! Nos montes distantes 
O Inverno principia. 
Um Inverno como dantes. 

Ao redor do lume aceso 
Todos ficamos a olhar... 
Todos não, não somos todos, 
Porque há vazio um lugar. 

Esse lugar era o dela, 
Que ninguém mais preencheu. 
Mesmo com vida, na terra, 
Era uma estrela no céu. 

(Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado")


«Alfredo Brochado

Biografia

«Alfredo Monteiro Brochado era filho do Dr. Alberto Vicente da Cunha Brochado e de D. Eulália da Conceição Monteiro Brochado, nasceu na freguesia de S. Gonçalo, Concelho de Amarante a 3 de Fevereiro de 1897. 

Obteve os seus estudos superiores, em Direito, pela Universidade de Coimbra. 

Desempenhou funções superiores no Tribunal da Relação de Lisboa. Na imprensa escrita, foi redator da revista literária "Gazeta dos Caminhos de Ferro" e articulista no "O Primeiro de Janeiro", "Diário de Lisboa", "Diário Popular", "República", "Semana Portuguesa", "A Águia", "Ilustrações o Século Ilustrado" e na "Seara Nova". Como títulos literários refere-se, em 1921, "O Sangue de Heróis, uma Ode, que foi escrita propositadamente para a Sessão de Homenagem ao Herói Desconhecido, em Amarante, sendo recitada pelo próprio, em 10 de Abril de 1921. 

Participou na antologia "Poetas de Coimbra", uma edição do Salão dos Estudantes de Coimbra, na Casa das Beiras, no ano de 1939 e na outra obra de poesia, intitulada "Os Cem Melhores Sonetos", compilado pelo poeta de nacionalidade espanhola Fernando Maristany e no "In Memorian de Leonardo Coimbra". 

Em 1949 foi lançado um livro póstumo "Bosque Sagrado - Poemas" , com as suas criações poéticas distribuídas por 126 páginas, contendo um retrato de Alfredo Brochado, o prefácio de autoria de Teixeira de Pascoaes e uma notícia redigida por Manuel Mendes. 

Em 1952 foi editado uma outra obra literária denominado "Diálogo Antigo", uma edição de 500 exemplares. 

Faleceu em 16 de Maio de 1949, cometeu suicídio por enforcamento, em Lisboa e ocupou por último o cargo de Chefe de Secretaria da Procuradoria-geral da República».» in http://olhaioliriodocampo.blogspot.pt/2014/05/mae-um-poema-de-alfredo-brochado.html


21/03/17

Amarante Poesia - No dia Mundial da Poesia, um Poema a uma fonte da Casa de Pascoaes que secou, onde Teixeira de Pascoaes personaliza na mesma, muita da sua inquietação interior...


(A fonte dos Golfinhos)


(A Fonte do Silêncio)


(A fonte da Carranca)


"A uma fonte que secou

Com teus brandos murmúrios embalaste
O decorrer dos meus primeiros dias.
E pelos teus gemidos os contaste;
Eu era então feliz e tu sofrias.
As minhas velhas árvores regaste,
O meu jardim de Abril reverdecias
E, quando as tuas lágrimas choraste,
Como a dor que hoje sofro, entenderias!
Mas, ai, tudo mudou! Longa estiagem
Bebeu, a arder em febre, as tuas águas;
Versos de água cantando a minha imagem.
Raios de sol que as fontes evaporam,
Levando para Deus as suas máguas,
Secai também os olhos dos que choram!"

(in Terra Proibida, Teixeira de Pascoeas)


22/11/16

Amarante Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor, Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Mulheres Amadas"


Talita Andrade


"MULHERES AMADAS

Carência em ânsia crescente,
Rumos de direção em alento,
O que a um o outro sente
No peito, num momento.

Ao cruzar um gesto se faz
Tão distante, no embaraço
De dar, por não ser capaz
A vontade de um abraço.

São instantes em desvio,
Corações que batem à toa,
Ao preencher o vazio
Da vida, que tão magoa.

Por tão longe a idade
Da memória, num rosto,
Faz acordar a saudade.
Quanta por tão gosto!

Como pedras calçadas
De paixão, que foram ruas
De mulheres tão amadas,
Hoje, de palavras nuas."

Eugénio Mourão


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1196135407133989&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=3&theater


11/11/16

Poesia - A Minha Colega e Amiga, Professora Anabela Borges, interpela-nos com o Poema: "Boa Noite".



"BOA NOITE

E o dia repousa 
no encanto da tarde: fim de dia.

Cumpre-se mais um ciclo 
a querer encostar a cabeça 
ao sonho: noite,

a pensar
no amanhã: amanhã,

manhã 
de cristal na palma da mão, 
como pássaros prontos 
a iniciar um novo voo: esperança."

ANABELA BORGES

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=536283183132727&set=a.186361621458220.43721.100002531506939&type=3&theater


27/03/16

Amarante Poesia - Neste dia, em que me lembro do dia de Páscoa em miúdo, onde ainda havia alguma magia, nada como recordar o Poeta de Gatão, Teixeira de Pascoaes em: "Páscoa na Aldeia"



"PÁSCOA NA ALDEIA

Minha aldeia na Páscoa...
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores...
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
Ressurreição de Deus! (...)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida...
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço.
Esperam o COMPASSO...
E, ajoelhando com séria devoção.
Beijam os pés da Cruz."

Teixeira de Pascoaes

23/03/16

Arte Poesia - O Escritor de Amarante, Teixeira de Pascoaes, na sua Obra Poética "Sempre", interpela-nos com a sua definição de "Poeta".



"Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou
Em num, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada."

Teixeira de Pascoaes Sempre (1898) In Poesia de Teixeira de Pascoaes Org. de Silvina Rodrigues Lopes Lisboa, Editorial Comunicação, 1987


(Ler Mais Ler Melhor Vida e Obra de Teixeira de Pascoaes)

Entrevista de António Mega Ferreira sobre a sua fotobiografia de Teixeira de Pascoas:

09/03/16

08/03/16

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Se um dia voltar..."


Foto: a modelo Rhoshelly Gama.


"SE UM DIA VOLTAR...

Julgaste-me para sempre, ó mundo!
Aquietaste-me os lábios,
E desalentaste os meus olhos.
Tenho medo de voltarem as palavras,
E os encontros de um tempo errado.
Fujo para os cantos onde não bate o sol,
Já vou tão longe que quase não consigo ver
As sombras bonitas que deixei lá atrás,
Na terra dos meus sonhos.
Já são desencanto...
Há tanta dor no caminho,
Tudo partiu, sem jeito, não sei para onde,
E ninguém ficou à espera.
Recordo as folhas caídas da minha estação,
Com o inverno no rosto.
Se um dia voltar, será primavera,
Pela berma de uma estrada feita de terra livre
E pedras perdoadas,
Por onde já corri o coração
Em euforia.
Um dia serei, sem medo,
Verão!"

Eugénio Mourão

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1005243179556547&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=3&theater

24/02/16

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Rua de um Poema..."


Foto: a modelo Brenda Jennifer


"RUA DE UM POEMA...

Escrevi-te esta canção…
Fala de uma casa no meio de um monte de palavras
Que construí para lá viveres
Para sempre.

A porta abre por dentro,
E quando toco à campainha
É o teu coração que vem atender-me.
No quarto há quadros
Que são quadras que rimam contigo.
Quando te vais deitar,
Peço à noite para luar os teus sonhos
Até adormeceres.
Acordas com um pintassilgo à janela
A recitar-te o amanhecer.
Ao saíres de casa, há um jardim à tua espera
Cheio de letras que abrem ao sol 
Para mostrarem o teu nome,
E quando chove as gotas fazem delas
Borrões de saudade.

Escrevi-te esta canção…
Fala de uma casa no meio de um monte de palavras
Que escrevi para lá viveres
Para sempre.

Fica na rua de um poema..."

Eugénio Mourão

16/02/16

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Adormecer"


Foto: a modelo Rhoshelly Gama


"ADORMECER

Há neste intervalo do mundo,
Tão longínquo, um lindo desejo,
Apenas o penso, já não o vejo,
Como ensejo tão profundo.
Meu velho relógio de sala, 
Dá horas amargas de acertar,
Já não sei como o afinar,
De tão cansado, não badala.
Chega o tempo de pernoitar,
E esta luz, luar nascente,
Outrora tão resplandecente,
Hoje não sorri de brilhar.
Escuto o silêncio da rua,
Afago o espírito, sinal de cruz,
Não há sentidos, apago a luz,
Sinto a noite nua.
Apenas o bater do coração,
Que meus sonhos acorda,
Vida que a alma recorda,
E adormeço a ilusão."

Eugénio Mourão


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