18/02/15

Amarante Poesia - O Poeta Teixeira de Pascoaes imbuído num constante Panteísmo sendo interpelado pela terra, pelo sagrado, pelo mistério de ser Homem...




«'i n R A S COMPLETA 

E, em baixo, o alpendre, o eirado, a meda, 
O sol, um passarinho que esvoaça, 
Uma amplidão aberta sobre o vai'... 

Vejo os grandes sobreiros, com ramagem 

De bronze, imóveis quase ao doido vento 

Que enche de vozes mortas a paisagem. 

E entre eles, num secreto isolamento. 

Junto a uma cruz de pedra, avisto a Capelinha, 

Quando, já indecisos da noitinha. 

Ermos vultos seguiam pela estrada, 

A sacola nas mãos e aos ombros uma enxada... 

E vejo o Crasto, Vai' d'lnfanle, Outeiro, 

A casa das alminhas, a penar... 

Labaredas de tinta... Qae braseiro! 

Que aflitas mãos erguidas 

A rezar ! 

Silhuetas abraçadas e lambidas 

Pelas chamas do fogo expiador. 

Outras almas, extáticas, sorriam... 

À custa de orações, rezadas com fervor, 

Já não sofriam... 

Revelações escuras do Infinito, 

Ingénuos cultos primitivos do meu Povo ! 

Ah, como tu, eu creio e me comovo! 

Eu creio, sim, nas almas; acredito 

Na dor sobrevivendo e no pecado, 

Depois da vida, perdoado 

Em virtude das nossas orações, 

Quando, em nós, a Esperança inabalável reza, 

Muito embora gelada de tristeza, 

Crucificada em negras aflições ! 

Vejo Paredes e o seu grupo de pinheiros; 
Luzes, Boco, Argaviça e Rocião, outeiros, 
Tão sós, que o povo teme. 
Se, às horas do silêncio, o vento geme...»


(Capelinha de Nossa Senhora dos Milagres, em Amarante Gatão, pertencente à excelentíssima afilhada do Poeta, Dona Maria Adelaide, a quem agradeço a permissão destas fotografias de uma Capela que adoro! Muito obrigado!)

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